Em caso de pânico

Ansiedade é um estado mental e fisiológico que, em pequenas doses, é excelente. Acontece quando o cérebro antecipa a possibilidade de um problema por resolver no futuro próximo – exame, relatório, falta de dinheiro, consequências possíveis de uma ideia de jerico – e se prepara desde já para lidar com a situação, deixando corpo e mente em estado de alerta, pronto para a ação, o que aumenta suas chances de sucesso se e quando o problema de fato aparecer. Passado o alerta, corpo e mente relaxam.

Já a ansiedade crônica é um problema de saúde: se o estado de tensão cerebral e corporal não vai embora, o corpo começa a pagar o preço, inclusive com o risco de ataques agudos de ansiedade ou pânico, duas maneiras de descrever o mesmo evento: um surto de atividade cerebral com função me-tira-daqui, altamente eficaz quando existe de fato ameaça iminente à sua integridade – mas que quando acontece no conforto da sua casa, cama, carro ou ambiente de trabalho, só traz sentimentos de mal-estar, desespero e fim do mundo.

Há várias maneiras de disparar um ataque: seu córtex pré-frontal se convence do problema que você anda temendo, a sirene do carro de bombeiros chega à sua amígdala, você tem o nariz obstruído ou está em lugar abafado, sonha um sonho pavoroso, ou seu hipocampo simplesmente não consegue mais segurar a onda do hipotálamo e joga a toalha. Em todo caso, o locus coeruleus, “lugar azul” do seu cérebro, cumpre sua função e dispara todos os alarmes.

Pronto, você está em DEFCON-5. Alerta máximo, como nos filmes americanos: todas as sirenes soam, luzes piscam, patrulhas correm de lá para cá... só que não há problema algum para resolver. Os músculos, crispados como pedra, não tem o que fazer, então doem e, junto com a pressão alta, reduzem a oxigenação das extremidades do seu corpo: seus dedos e boca ficam dormentes. O cérebro para todos os trabalhos digestivos; a náusea é imediata.

A lista de expressões possíveis de um ataque de pânico é longa e individualizada, mas em comum está o sentimento de que você nunca se sentiu tão mal de uma vez só, então algo deve estar muito, muito errado. O que fazer?

Não se ensinar a nadar quem está se afogando. Relaxar e respirar devagar e profundamente controla o locus coeruleus e ajuda a evitar um ataque, mas dificilmente reverte o que já começou. Ser abraçado longamente e apertado oferece algum alívio, mas no auge de um ataque, o melhor remédio é ter remédio para tomar. Alívio garantido em 15 minutos. Consulte seu médico.

Extraído de Suzana Herculano-Houzel (2025) Neurociência da Vida Comum, originalmente publicado na Folha de São Paulo em março de 2019

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