Para não enjoar no carro

Vêm chegando as férias: tempo de descansar da escola e do trabalho, passear e conhecer novos horizontes, colocar o carro na estrada e... ficar enjoado, principalmente quando se é criança e viaja no banco de trás. Para quem enjoa, só a perspectiva tenebrosa de ficar mareado com as curvas da estrada já corta parte do barato da viagem. O que fazer para não ficar enjoado?

O primeiro passo é entender o que é o enjôo. A sensação de estômago embrulhado característica do enjôo é literal: a náusea vem da desregulação das contrações peristálticas ritmadas do estômago. Em geral, ela começa com alguma toxina que irrita o estômago. No cérebro, o hipotálamo é avisado do problema digestivo e joga no sangue grandes quantidades do hormônio vasopressina, que desregula as contrações estomacais e provoca náusea crescente, sensação que prenuncia o desfecho do problema quando o conteúdo do estômago é ejetado. Com o vômito, o hipotálamo pára de liberar vasopressina, o estômago se regulariza e a náusea passa – ao menos por algum tempo.

O problema do enjôo na estrada é que o hipotálamo também pode ser levado a despejar vasopressina no sangue pelo sistema vestibular, que monitora o equilíbrio postural, quando o cérebro perde o controle da situação: as imagens da estrada deslizam sobre os olhos sem que você mova seu corpo, que sacoleja de modo imprevisível fazendo com que o cérebro não consiga antecipar as sensações associadas aos movimentos nem manter a postura corporal. Esse pesadelo vestibular faz com que o hipotálamo inunde o sangue com vasopressina, e o resultado são os protestos vindos do banco de trás – e às vezes do carona também.

Como evitar o enjôo, então? Vamos a algumas dicas da neurociência. Não leia no carro, ou seu cérebro tentará em vão mover os olhos atrás das letras pulando incontrolavelmente. Busque uma visão ampla da estrada: sente as crianças sobre assentos especiais no banco de trás para que elas tenham a chance de antecipar como seu corpo e olhos devem chacoalhar com as curvas, e ensine-as a olhar para longe, o que reduz o deslizamento das imagens sobre os olhos. Controle a ansiedade do enjôo respirando lenta e profundamente. Insista em andar de carro, pois é assim que se aprende a antecipar as alterações sensoriais com as curvas da estrada. O melhor, no entanto, é assumir o controle do carro: quem dirige raramente fica enjoado.

E, se nada disso funcionar, o remédio você já conhece: vomitar...

Extraído de Suzana Herculano-Houzel (2025) Neurociência da Vida Comum, originalmente publicado em junho de 2007 na Folha de São Paulo

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